Mulher no volante, perigo constante? Um estudo sobre trabalhadoras no transporte coletivo por ônibus
Esta pesquisa visou estudar o trabalho das mulheres nos transportes coletivos urbanos por ônibus, especificamente as que ocupam funções de motoristas e cobradoras em duas empresas, nas cidades de Araraquara e São Carlos, interior paulista. O objetivo geral foi analisar o trabalho dessas mulheres num ambiente majoritariamente masculino e verificar a sociabilidade dessas trabalhadoras neste ambiente, além das formas como as mesmas lidam com isso em seu cotidiano. Para a realização da pesquisa, foram utilizadas fontes documentais, observações do trabalho nos ônibus e terminais e foram aplicadas 12 entrevistas em profundidade com as trabalhadoras destas empresas. Da relação dos trabalhadores com a empresa foi obtido que não há diferenciação entre homens e mulheres, ocorrendo diferenciação apenas entre os cargos, no entanto as trabalhadoras ressaltam a necessidade das motoristas terem que ser seguras de si e provarem que são tão capazes quanto os homens para executarem a condução dos ônibus. Dos colegas, as trabalhadoras afirmam que a relação é positiva e em algumas situações devem “levar na brincadeira” o que eles falam. O “levar na brincadeira” foi analisado aqui como um mecanismo de defesa pessoal, assim como o isolamento e a desconfiança neste espaço de trabalho foram vistos como formas internas de proteção para continuarem realizando as atividades. A presença do assédio foi constatada, tanto moral quanto tentativas de assédio sexual também, o que novamente as levam a utilizarem dos mecanismos que dispõem, dentre eles a postura séria e masculina para evitarem “cantadas”. O trabalho emocional também foi visto na atividade, sendo refletido pelo estresse e esgotamento, resultado do lidar com os passageiros, colegas e cuidar da casa, ocorrendo como uma terceira jornada de trabalho para as motoristas e cobradoras. Trabalho original publicado em Repositório UFSCAR Link: https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/7541