A emoção no ensino de biologia: uma análise das enunciações discentes
A emoção é componente fundante do viver humano. Historicamente, o seu reconhecimento na relação com a cognição deu-se por volta do final do século XX e início do século XXI, antes disso, os estudos da emoção eram restritos aos laboratórios e acreditava-se na dicotomia entre emoção e cognição. Nesse contexto, a emoção não conseguia alcançar muitas áreas de conhecimento, sobretudo a educação, o que fazia do ensino dessa época predominantemente racionalista, frio e conteudista. Nesse percurso, alguns neurocientistas se dedicaram a se aprofundar nos estudos da emoção, corroborando posteriormente a intrínseca relação emoção e cognição. A partir de então, a emoção atravessou as barreiras dos laboratórios e alcançou as mais diversas áreas de conhecimento. Sendo valorizada e reconhecida, após as promissoras descobertas, o objetivo era romper com os paradigmas construídos e pautados no racionalismo, com vista na educação integral, que valorizasse e respeitasse as dimensões do ser humano. Mesmo atualmente sendo reconhecida é preocupante os enraizamentos de uma Educação racionalista, que desconsidera o papel das emoções nas práticas educativas. Por esta razão, nesse estudo, buscou-se analisar as significações dos discentes no componente curricular Biologia em torno da emoção nos processos de ensino-aprendizagem. Consideramos fundamental o olhar discente, haja vista o impacto da ausência do reconhecimento das emoções na formação desses sujeitos, no seu desenvolvimento, o que nos leva a crer que eles têm muito a dizer sobre suas realidades e necessitam ser escutados. O estudo foi desenvolvido em uma escola do município de Remígio-PB, com uma turma do 3º ano do Ensino Médio, ou seja, com aqueles que estão finalizando a etapa de Educação Básica, para melhor verificarmos seus sentidos e suas experiências. Participaram da pesquisa 15 sujeitos, disponibilizando-se a responder o instrumento de coleta de dados, qual seja, um questionário com 19 perguntas relacionadas a emoções no ensino de Biologia. Contatamos na análise discursiva dos sujeitos uma noção muito superficial em torno dos conceitos. Ficou explícito a influências da emoção no seu cotidiano e no âmbito escolar. Os educandos alegam a importância dos conhecimentos específicos da disciplina Biologia, mas, por outro lado, tecem discursos marcados pelo desejo de mais aulas de campo e práticas, pois para eles estas despertam a emoção de alegria. Esses momentos de vivências educativas tornam o ensino de Biologia mais interessante, o que estimula a aprendizagem desses sujeitos. Em relação a relação educador-educando os sujeitos compreendem o quanto é importante nutrir boas relações com os professores, haja vista sua importância na construção do conhecimento. As avaliações foram marcadas pelos educandos como momentos estimulantes do medo, da tristeza e da raiva, pois associaram essas emoções a avaliação “prova” escrita e oral, as notas baixas e a quando não conseguem compreender. Portanto, destacamos a importância da emoção nas práticas do ensino de Biologia, reconhecendo-as e estimulando as emoções positivas que impulsionam a aprendizagem e, por outro lado, a busca por alternativas de regulação das emoções negativas, que por sua vez prejudicam o desempenho dos educandos na disciplina, sobretudo as relações sociais. Trabalho original em Repositório Institucional da UFPB Link: https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/12613